terça-feira, 20 de março de 2012

Insónia




“Passava já das quatro da manhã e não tinha sono. Tiago era noctívago por obrigação, por necessidade, mas não por escolha.
O sono não é um vício, uma vontade ou necessidade. É sim uma dádiva. Uma preciosa dádiva de quem só sente a falta, quando nota a sua ausência. E, neste aspecto como em tantos outros na vida, Tiago não tinha sido bafejado pela sorte. Ir para a cama, para ele, era um pouco como um toque a recolher. Era por obrigação, era porque era. Sabia que não iria dormir de repente, não conhecia esse ato. Melhor, conhecia, mas estava tão distante na sua memória, que lhe tinha perdido a sensação. A única parecida, era a que lhe proporcionavam os medicamentos que tomou e que criavam um atalho entre o completamente desperto e o mais profundo dos sonos. Mas, como tudo o que não é natural, também isso não era eterno. E, mal parava a medicação, logo o atalho se transformava num longo e penoso caminho.
Este período dava para tudo. Para reflectir, fazer planos, desfazê-los mesmo antes de estarem prontos, fazer juras eternas e rompe-las, mesmo antes de se concretizar o primeiro passo.
Mas hoje não era esse o caminho. Apetecia-lhe rever a sua última noite…”

1 comentário:

trepadeira disse...

As insónias trazem aquela fase morna,indefenida,abúlica,da qual é difícil acordar.

Um abraço,
mário